30/06/2010

Sem título

Vieira da Silva, ministro da Economia, sobre o aumento do IVA faz um apelo aos empresários. Entende o ministro que sempre que possível devem ser os empresários a suportar o aumento do imposto, sem o reflectir nos preços ao consumidor.

O apelo é anedótico. Este é o ministro que tutela o Ministério que abriu apoios, linhas de crédito e incentivos para estimular a economia durante a crise. O mesmo que agora fecha esses apoios, a pretexto da crise das finanças públicas. O mesmo que apela para que sejam as empresas, ontem necessitadas de apoio, a absorver os custos do aumento de imposto.

O que é isto?

28/06/2010

Dúvidas

O turismo, que é coisa bem diferente do desenvolvimento regional turístico, parece ser a bóia de salvação de parte significativa do território nacional. E o Governo liderado pelo primeiro-ministro José Sócrates, ex-ministro do Ambiente, chancelou PIN por aí fora no sentido de ultrapassar as burocracias normais destas coisas.

Vieram os ambientalistas, uma raça difícil, persistente e demagógica – dizem – e desataram a fazer denúncias e a por barreiras onde os PIN as tinha removido.

Aparentemente a Comissão Europeia seduziu-se pelos argumentos dos ambientalistas e deu em fazer avisos e perguntas. Mais estranho é que o Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo, cuja aprovação tem vindo a ser protelada pelos dos autarcas, parece que coloca as mesa dúvidas que a Comissão Europeia – e daí ser um documento non grato.

Se calhar, os PIN não resolvem tudo. E ainda bem que há Comissão Europeia. Pelo menos podemos ficar esclarecidos.

Noticias
RR, Público, Expresso, Jornal do Algarve

25/06/2010

Confiança

A política é hipócrita. Cavaco Silva, ao falar para jovens empresários, descreveu a crise, aconselhou cautelas, foi realista ao dizer que não devemos ter ilusões porque proximamente não teremos um crescimento convergente com a Europa.

O PS vem a terreiro dizer que, grosso modo, o diagnóstico é consensual, mas é dever dos agentes políticos não fazer alarde de uma situação que sabemos difícil, porque é necessário dar uma ideia de confiança para fora.

Não se pode falar verdade em política. Mesmo que a saibamos não a podemos assumir, a bem da Nação. E, pelos vistos, o Chefe de Estado tem a obrigação de calar, mesmo quando o regabofe, a ignorância e o alheamento são pais de uma crise mal parida.

Pelo menos ficamos com uma certeza: a verdade do Governo é uma parte da realidade. A bem da Nação. Afinal, onde é que está o problema da confiança?

Conversa de café

Hoje é dia de julgamento cá no burgo. Nestes dias o café aqui ao lado transforma-se, subitamente, num laboratório sociológico inestimável. Ainda o denunciarei à Maria Filomena Mónica.

Enquanto bebia o meu café, passava uma reportagem na televisão sobre Saramago. E uma senhora, arreada como se em vez de um julgamento fosse a um baile de debute, ia comentando para dois sujeitos mal amanhados: “Não gosto do Saramago. Aquela escrita é contra o nosso português. Não usa vírgula, é preciso muita concentração”. E remata: “A gente assim não conseguimos ler”.

Percebe-se porquê.

21/06/2010

Reduzir as coisas a nada

Discutir comigo é irritante. Sei disso. Porque muitas vezes argumento uma perspectiva que na realidade não defendo para prolongar a discussão e ter a possibilidade de conhecer, como diz a canção de Sérgio Godinho “p'ra ver também um pouco do lado do adversário, do lado contrário”. E irrita-me, perigosamente, quando tenho um interlocutor que reduz as coisas a nada.

Hoje isso aconteceu-me numa conversa simples. Sobre a morte de José Saramago. Porque, ainda antes de entrarmos na fase da discussão, ainda no prelúdio, o meu interlocutor resume tudo a isto: “Um populista, um demagogo”. Sem mais nada. Toda a vida e obra do único Nobel português da Literatura se reduziu à sua intervenção pública, política ou às polémicas. Não adiantei, porque tenho a certeza que se perguntasse a resposta seria de que nunca leu nenhum livro de Saramago.

Li quatro, talvez cinco livros de Saramago, incluindo “Os Poemas Possíveis”. Lerei mais com certeza. Mas estes quatro ou cinco bastaram para saber que era muito mais que demagogia ou populismo. Para perceber porque marcou de forma tão evidente a literatura portuguesa e mundial. Para gostar. Porque antes do Nobel descobri o “Ensaio sobre a cegueira” que logo elegi como um dos livros da minha vida.

Por estes dias Mário Soares contou que, aquando do lançamento de “O ano da morte de Ricardo Reis”, escreveu a Saramago a dizer: não gosto de si, o senhor não gosta de mim, mas tenho de lhe dizer que é um grande escritor. Ao que Saramago lhe respondeu: parece que o senhor gosta mais de mim que eu de si, dando-lhe conta da satisfação que sentiu ao receber a missiva do então primeiro-ministro.

O padre Carreira das Neves contou, ontem, que conheceu Saramago aquando do lançamento de “Caim”, num frente a frente televisivo. E que ficaram amigos, que Carreira das Neves iria em breve passar uns dias a Lanzarote para privar com Saramago e com Pilar, uma vez que ele e o escritor ambicionavam escrutinar melhor os seus argumentos e pontos de vista.

O que hoje vivi deixa-me profundamente triste. Preferia ter tido uma implacável discussão. Quando a cultura, quando um dos maiores vultos da Cultura do último século português, é vítima de uma mera avaliação de valor, intrinsecamente política, mesquinha e bordalenga, tenho para mim que merecemos esta merda de País.

08/06/2010

Estratégia

Tenho dúvidas sobre as medidas de encerramento de escolas no Interior do País. Quem já jogou SimCity? Pois bem, os princípios do jogo relativamente a escolas, serviços públicos, organização da malha urbana e economia local estão em linha com as teorias de desenvolvimento regional e local. Peca apenas pela fraca interacção com as localidades vizinhas.

Existem critérios pedagógicos. Certo. Mas parece que o Conselho de Escolas não foi ouvido. E existem critérios económicos. Provavelmente foram esses que pesaram.

O que acontece é que uma determinada sucessão de um certo tipo de medidas contribui para a vertiginosa tendência de litoralização do País. Isso tem consequências seríssimas: económicas, sociais e ambientais. Não defendo uma posição de princípio contrária, mas o todo destas medidas levanta problemas mais sérios do que aqueles que aparentam.

07/06/2010

Citação

O País transformou-se numa coisa de tal forma pastosa que (parece-me) contamina as nossas vidas. Pelo menos a minha. E agora percebo aquela coisa do sentimento de confiança que titulam os económicos. É impossível confiar e, pelo sim pelo não, fiz uma fuga à escrita, como se isso se traduzisse, de qualquer forma, numa fuga ao mundo.

A provar que não há fuga: comprei o Expresso e levei-o à praia. E cito Sousa Tavares, que me parece ter definido a coisa pastosa numa boa frase.

“O Estado português é como o chefe de família que passa o dia na taberna e no casino e depois rouba o ordenado à mulher e aos filhos para se sustentar!”.

Nem mais.