30/07/2010

Tanta coisa

E isto?
Ou isto?
Isto?
Caetano e Chico.
E aqui?
?
Cília?
E aqui, Coimbra?
Esta é das mais comoventes.
Entrevistei, uma vez, este gajo. Fascinante! Um delírio.
Ui.
Guitarra, voz.

Sim, alguns sons são maus. Pouco me importa. Estou de férias. Mais um gin tónico, sff!

Há aqui qualquer coisa

Gordo. Enorme. A voz firme, absoluta. Cada verso, cada, cada gesto é inundado de ternura e raiva e paz e eternidade.

Existem afinidades indefiníveis. Música que tem gente dentro, gente que tem o mundo dentro, momentos que nos têm a nós dentro. Não posso viver sem isto, não posso viver com isto. Porque isto é parte de mim e é a minha inquietação.

Gordo, de ternura. Enorme. A voz é infinita. Poder ouvir Pedro Barroso é um privilégio que agradeço sempre. Há aqui qualquer coisa que não consigo explicar.

28/07/2010

Notas sobre as presidenciais

1- Defensor Moura, deputado do PS e ex-autarca de Viana do Castelo, apresenta-se hoje na corrida a Belém, alegadamente para complementar a candidatura de Manuel Alegre e obrigar o Prof. Cavaco à segunda volta. Iniciou-se como deputado na AR em 1986, pelo PRD. É extraordinária a força anímica dos ex-PRD e a sua capacidade de furar na vida política. Não há dúvidas de que foi uma escola.

2- Manuel Alegre vai sendo bombardeado com as questões da sua vida militar. Não percebo o problema de se ter sido desertor e a ideia de traição à pátria se a consciência nos ditar que uma determinada guerra é injusta ou sem fundamento. Parece que não, mas se tivesse sido? Na questão da guerra colonial, se tivesse vivido naquele tempo, seria desertor – se tivesse coragem para isso, sendo que julgo que seria necessária tanta coragem para desertar como combater. Como, por princípio, sou antimilitarista e sinto uma aversão natural às coisas militares – e até algum desprezo. Podia depender das circunstâncias e das causas, mas se hoje fosse mobilizado para uma guerra o mais provável era achar a guerra em si um meio sem sentido. Das duas uma: ou seria desertor ou objector de consciência. Chamem-me nomes.

21/07/2010

Freeport: Mais interrogações

Independentemente de tudo o resto, esta notícia deixa uma série de dúvidas e de factos ou alegados factos mal explicados.

Por que raio o seu gabinete participou nas campanhas socialistas de Alcochete, Barreiro, Grândola, Santiago do Cacém e Moita? Existe alguma ligação entre esse facto e o caso Freeport? Não está claro.

Aliás, ficam por explicar uma série de suspeições implícitas. Aguardo desenvolvimentos deste trabalho no DN…

Antes da sealy season

O Verão é, por norma, uma época morta para o jornalismo. Contudo, este ano podemos passar pela sealy season sem que ela se manifeste. Pelo menos, se Passos Coelho mantiver a gasada, obrigando o Governo e o PS a uma marcha compassada.

Nos últimos dias temos boas e más notícias. E episódios, habituais na sealy season mas que fora de tempo podem ser ora divertidos ora patéticos.

Nas boas notícias, temos isto. Um investimento eventualmente estruturante, que pode vir a ser um cluster, no Alentejo onde na maioria das ocasiões tudo parece perdido, esquecido, de ninguém.

Nas más notícias temos todas as secções de política e economia de qualquer diário, semanário ou online. Nem vale a pena ir por aí.

Para já, a sealy season abre com um episódio delicioso, mas que passou algo despercebido. Vi em directo e fiquei petrificado. Primeiro, pensei que isto chegava a vias de facto, o que sendo triste dava um inesquecível episódio de Verão. Ler aqui e ver aqui.

14/07/2010

Isaltino

A semana passada Vasco Pulido Valente escrevia uma crónica em que contava como perdeu cinco anos da sua vida num processo que lhe moveram por difamação.

Desde 2003 que a justiça anda às voltas com o Caso Isaltino. Desde 2003 que Isaltino se tornou num cromo português. Marques Mendes precipitou uma medida de exclusão dos arguidos em processos judiciais das listas de candidatos às autárquicas, muito por causa de Isaltino, que simbolizou a moral da história. Ainda assim ganhou Oeiras.

Passados 7 anos continua a saga. E isto presta-se a que no dia em que sai o acórdão do recurso à Relação, Isaltino Morais se passeie ao lado do Presidente da República no roteiro presidencial das comunidades locais inovadoras.

Das duas uma: ou é culpado ou não é. Se é tem de ser punido. Se não é tem de ser compensado. Não pode haver nem meia justiça nem meia impunidade. Nem subsistir a dúvida.

Ideias II

Falei há pouco tempo do livro de Pedro Passos Coelho. E sublinhei que uma coisa é defender um programa, outra é a capacidade d o implementar.

Acontece que Passos Coelho faz essa mesma ressalva no último capítulo do livro. E isso, sendo legítimo, desiludiu-me, porque é como quem diz: defendo isto, mas sei que posso não chegar a tanto. É uma declaração de fragilidade antecipada.

12/07/2010

Alentejo

Este ano houve dias em que o calor apertou. Um calor sufocante. Um calor que só faz no Alentejo. Mais de 40 graus. 41, 42.

Por esses dias, as televisões correm a ver se sobrevivem as gentes do Alentejo. Uma das reportagens foi ao campo. Um grupo de mulheres – que se rancho – fazia a apanha não sei bem de quê. Cada dia, uma delas encarrega-se da função de aguadeira, ficando responsável por transportar a infusa de água fresca às restantes. Ironicamente, é a aguadeira que passa mais sede.

Estas mulheres estão ali, provavelmente, desde as 6 da manhã. Largam às 5 horas. Ganham mal para esforço físico a que estão sujeitas. Cantam e entoam modas campos fora, como há 40 ou 50 anos. E parecem-me conformadas. Alegres.

Cada um de nós, na sua rotina, no seu dia, debaixo do ar condicionado, olhos postos no computador, não faz a mais pequena ideia que existem por esses campos homens e mulheres à chapa do sol, a sofrer os mais de 40 graus. Não faz ideia que não têm uma garrafa de água ao lado, que comem por ali, debaixo de uma sombra. A imagem do Alentejo do Estado Novo, cheio de gentes no campo, esmoreceu, mas não se esgotou.

Por incrível que pareça, aqueles tomates, os pimentos, as batatas não nascem refrigerados nas prateleiras dos supermercados.

No fim de contas, sinto-me culpado, porque o gesto tão simples de encher um saco de tomates e pagá-los na caixa não é por mim valorizado como devia. Houve alguém que sofreu para eu poder fazer a salada.

09/07/2010

Paciência!

Tenho um problema social. Não tenho paciência para falar com pessoas que não me interessam. Não posso escolher os colegas de trabalho nem as pessoas com que me cruzo ocasionalmente. As idas ao supermercado tornaram-se numa fuga entre corredores.

Descobri, também, que a intervenção cívica, em associações e coisas do género, são um pesadelo. O pessoal reúne por tudo e por nada, e aquilo que se resolvia em 15 minutos arrasta-se por mais de uma hora porque este gente fala de tudo e de nada. Coisas sem interesse nenhum.

E eu não tenho paciência para isto!

Em boa hora

Em boa hora voltou a Pensão.

07/07/2010

Ideias

Estou a ler o livro de Pedro Passos Coelho. O que me aguça, ainda mais, a curiosidade. Existem ideias, algumas muito precisas, quer sobre o diagnóstico quer sobre os principais caminhos a trilhar.

Sobretudo, assinalo uma novidade na política portuguesa. Ao contrário do Sócrates 2009, que não passou de uma operação de marketing estéril, existe uma diversidade de fontes abrangente sobre o pensamento desta direcção do PSD.

Isso é bom. É esclarecedor. Claro que, uma vez no poder, a execução pode sempre ser muito diversa da teoria. Mas, pelo menos, sabemos o que pensa o próximo primeiro-ministro. E podemos organizar ideias e formas de intervenção.

Sublinho a clareza de ideias sobre o posicionamento do Estado. Não concordando com algumas questões de princípio, acho muitíssimo importante a reflexão e o debate. Sem hipocrisia e sem tabus.

É irremediável: Passos Coelho deu um passo em frente e está a contribuir para elevar a qualidade da Democracia. A ver vamos se no poder não inverte a marcha.

02/07/2010

Desemprego

Os dados do Eurostat indicam que a taxa de desemprego em Portugal é de 10,9%. Contra a esperança do Governo, o Eurostat não reviu os números do mês passado em baixa.

Primeiro: o Governo prefere basear-se nos números do IEFP, que não são estatística, referem apenas o número de desempregados inscritos nos centros de emprego. Os dados nacionais do desemprego, oficiais, são os do INE. Esses são credíveis, mas não é a eles que, na maioria das declarações, os governantes de referem, uma vez que são sempre mais pessimistas que os do IEFP.

Segundo: o Governo bem que se pode esfrangalhar ao sugerir que o desemprego vai baixar. O número de inscritos no IEFP baixará provavelmente, porque os desempregados de longa duração irão às suas vidas sem o “apoio” do instituto de emprego, anulando, assim, as suas inscrições, de forma a evitar reuniões patetas e formações inúteis a que são obrigados. Porque estas ainda oneram mais os seus parcos rendimentos – têm de deixar os filhos com alguém, almoçar fora, deslocar-se.

Já estive inscrito no IEFP, já fui a reuniões inúteis, fui “convidado” para formações “muitíssimo” adequadas à minha área profissional e até me tentaram motivar para a carreira militar. Estas formações são muito interessantes para o IEFP: alimentam a clientelagem política dos formadores e afins; retiram os desempregados da estatística do instituto temporariamente, contribuindo para o natural optimismo dos seus números, tão simpáticos aos governantes.

O desemprego é o problema mais grave desta crise. E advém da debilidade da nossa estrutura económica. É estrutural e não se vai resolver nem com fundos comunitários nem com palavras de circunstância.

01/07/2010

Insustentabilidade

Hoje aumenta o IVA. E o IRS. Aumenta tudo. O cumprimento das metas estabelecidas para o défice obriga ao aumento de impostos. Mas em breve estaremos novamente numa situação de ruptura se não se fizerem cortes profundos na despesa, os quais têm forçosamente de passar por um replaneamento estratégico do Estado e da máquina administrativa. E, eventualmente, pelo reposicionamento do Estado, das suas funções.

O aumento de impostos vai desencadear um processo recessivo. E a verdade é que a economia demonstrava crescimento, ainda que frágil.

A situação fica resolvida a curto prazo. Mas comprámos um novo problema para o médio e longo prazo, e esse não está resolvido. No diagnóstico Passos Coelho tem razão. As soluções têm de ser amplamente estudadas e discutidas. Mas já.

A situação do País é insustentável, diz Cavaco. E tem razão. Mesmo que seja politicamente pouco oportuno, tem razão. Quando foi primeiro-ministro também contribuiu para esta insustentabilidade – esta situação vem de longo, pelo menos dos últimos 20 ou 30 anos. Tem pouca moral para apontar o dedo.