26/02/2010

Madeira

Concordo que não é o momento para recriminar. Mas não aceito que não se possa falar de causas e de responsabilidades.

O Expresso mostra que o problema estava identificado. E que vinha sendo ignorado nos diversos instrumentos de ordenamento do território.

Se a Madeira fosse caso único, lamentávamos. Mas não é. O que é motivo de preocupação.

Liberdade de Imprensa

António José Saraiva, director do jornal Sol, vai hoje ao Parlamento, em sede de audição na Comissão Parlamentar de Ética, onde será questionado sobre alegadas pressões do Governo aos órgãos de comunicação social.

Estas inquirições são inúteis. Os resultados não passarão de um relatório inconsequente sobre a conduta do Governo. Não tenho a certeza de uma comissão de inquérito vir a ser mais virtuosa, porque na verdade a pressão sobre os órgãos de comunicação social é uma tentação de todos os que ocupam o poder.

Para já, assistimos a um desfolhar de estórias cujo maior contributo será um de dois: ou agrava a imagem já negativa que temos do Governo e do primeiro-ministro, ou vai branqueá-la. Bom, em relação à primeira hipótese, é escusado o esforço, porque os próprios se têm esmerado nesse sentido. Quanto à segunda, parece-me que as autoridades judiciais empreenderam as diligências necessárias.

Mário Crespo foi constrangedor. E temo que Saraiva nos proporcione algo semelhante.

25/02/2010

Mudar os partidos

Mudar os partidos. Mudar a democracia.

Surgiu um movimento. Não sei quem são, se são realmente independentes, se as intenções escritas correspondem aos objectivos.

Recrutar pessoas que queiram aderir massivamente aos partidos. A qualquer um. Cada qual escolhe o seu. A ideia é fomentar a militância e mudar a forma como os partidos funcionam. A entrada massiva de novos militantes, que exerçam a militância, pode ter impacto no caciquismo em que marinam todos os partidos. E, consequentemente, contribuir para uma melhor democracia - que bem precisamos.

Contudo, há que estar preparados. Uma vez lá dentro, há que, individualmente, cada qual, lutar tenazmente para resistir à perversa natureza humana. Haverá promessas, lugares para preencher, salários simpáticos para atribuir em empresas públicas e muitas oportunidades de afago ao ego.

Mas é indiscutível que enquanto não mudarmos os nossos hábitos em relãção ao exercício da nossa cidadania nada mudará. E a nossa democracia vai-se tornando neste lodo a que a assistimos dia-a-dia, impacientes, incrédulos, mas, ainda assim, confortavelmente sentados nas nossas poltronas.

http://mudarospartidos.blogspot.com/

Postigo

Diz o dicionário que Postigo é uma "Porta pequena em muralha para serventia de pouca monta (…) Tampa com que se fecham as vigias”.

Postigo é de onde se vê o que não se diz, ou dizendo diz-se sussurrando. De onde as velhas olham, espreitam, vigiam. Seguem para dentro. Remoem. Do postigo sussurram o olhado, espalham as novas, apregoam. Do postigo se espreita, desconfiando, em descoberta do manusear seco das aldrabas.

O postigo não é uma janela. É de serventia a pouca monta. No Alentejo, um postigo para a praça é uma janela para o mundo. E também um confessionário. Sussurros.