12/07/2010

Alentejo

Este ano houve dias em que o calor apertou. Um calor sufocante. Um calor que só faz no Alentejo. Mais de 40 graus. 41, 42.

Por esses dias, as televisões correm a ver se sobrevivem as gentes do Alentejo. Uma das reportagens foi ao campo. Um grupo de mulheres – que se rancho – fazia a apanha não sei bem de quê. Cada dia, uma delas encarrega-se da função de aguadeira, ficando responsável por transportar a infusa de água fresca às restantes. Ironicamente, é a aguadeira que passa mais sede.

Estas mulheres estão ali, provavelmente, desde as 6 da manhã. Largam às 5 horas. Ganham mal para esforço físico a que estão sujeitas. Cantam e entoam modas campos fora, como há 40 ou 50 anos. E parecem-me conformadas. Alegres.

Cada um de nós, na sua rotina, no seu dia, debaixo do ar condicionado, olhos postos no computador, não faz a mais pequena ideia que existem por esses campos homens e mulheres à chapa do sol, a sofrer os mais de 40 graus. Não faz ideia que não têm uma garrafa de água ao lado, que comem por ali, debaixo de uma sombra. A imagem do Alentejo do Estado Novo, cheio de gentes no campo, esmoreceu, mas não se esgotou.

Por incrível que pareça, aqueles tomates, os pimentos, as batatas não nascem refrigerados nas prateleiras dos supermercados.

No fim de contas, sinto-me culpado, porque o gesto tão simples de encher um saco de tomates e pagá-los na caixa não é por mim valorizado como devia. Houve alguém que sofreu para eu poder fazer a salada.

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